Estudante do Inatel cria copo que denuncia bebida adulterada com metanol ou drogas
14/12/2025
(Foto: Reprodução) Estudante desenvolve copo que indica alteração em bebidas
Um copo desenvolvido por uma aluna do Instituto Nacional de Telecomunicações, em Santa Rita do Sapucaí (Inatel), indica possível adulteração de bebidas e aponta presença de metanol ou drogas em bebidas.
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O copo batizado de “Safo Sip”, ou “gole seguro” em uma tradução livre, é ecológico e funciona por meio de uma reação química visual. De acordo com a estudante de engenharia biomédica Rayana Fernanda dos Santos Silva, o processo ocorre em uma fita gelatinosa feita com as antocianinas, pigmentos naturais extraídos de um composto vegetal, que apontam se a bebida sofreu algum tipo de contaminação com substâncias químicas.
A reação não interfere no sabor, cheiro ou aparência da bebida, garantindo uso seguro e discreto. O resultado é muito rápido e aparece 15 segundos depois da bebida entrar em contato com a fita.
A mudança na cor, originalmente, roxa, indica a substância contaminante: amarelo neon é metanol, rosa são drogas. A fita foi testada para GHB (ácido gama-hidroxibutiríco), cetamina e benzodiazepínicos, substâncias que são sedativas, capazes de causar a perda da consciência e até da memória que, geralmente, são as utilizadas em golpes.
"O intuito do copo não é identificar uma droga específica, mas sim detectar a presença de substâncias dopantes, por meio da mudança de coloração, resultante da variação de pH, independentemente da substância envolvida. O GHB, por exemplo, ele se comporta de formas diferentes. O ácido puro é um ácido fraco numa faixa de pH de 2,5 a 4,5, porém, o GHB de sódio é um sal básico que tem um pH na faixa de 7,5 a 9. Então, o pH é uma das pistas usadas em análises toxicológicas, porque soluções caseiras do GHB de sódio costumam ser bem alcalinas", explica a professora Maysa Costa Alves, orientadora do projeto. .
Copo desenvolvido no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí, denuncia se bebida está contaminada com metanol ou drogas dopantes
Reprodução EPTV
A fita fica reativa em contato com diferentes tipos de bebidas desde que estejam em temperatura ambiente ou geladas com segurança por um bom tempo . A tecnologia não foi testada em bebidas quentes. A mudança de cor pode ser vista em diferentes condições de iluminação.
"Em testes, essa fita demora cerca de 72 horas para ter os primeiros sinais de degradação. A calibração dos reagentes foi um dos nossos cuidados, para que essa fita detectasse apenas uma faixa específica de substâncias.Por exemplo, se você coloca café, ela não muda de cor, se você coloca o energético, não muda de cor. Ela reage a uma faixa muito específica, que no caso é essa gama de substâncias usadas no "Boa Noite Cinderela" e no metanol", explicou a pesquisadora.
Rayana dedicou dois anos da sua graduação na pesquisa, que ainda precisa de testes em cenário real.
"A gente fez os testes em diferentes cenários controlados e, agora, o nosso objetivo é fazer testes em campo para verificar todos cenários alternativos que a gente possa vir a presenciar", disse.
O projeto original para detectar drogas dopantes foi apresentado na Feira Tecnológica do Inatel (Fetin) de 2024, recebendo primeiro lugar em complexidade técnica e vai gerar um artigo científico, ainda em fase de finalização.
A estudante explica que a intenção da pesquisa era oferecer uma solução que protegesse as pessoas de serem vítimas de substâncias dopantes, conhecidas como “Boa Noite, Cinderela”, que são sedativas, capazes de causar a perda da consciência e até da memória.
“Estudos indicam que cerca de 25% das mulheres já foram vítimas desse tipo de crime em festas e eventos, revelando uma lacuna significativa na segurança dos consumidores. Esse problema é especialmente preocupante em festas, baladas, festivais e outros eventos sociais, onde a detecção visual de adulteração é praticamente impossível uma vez que muitas substâncias não alteram o sabor, cor ou cheiro das bebidas”, afirma a estudante na defesa do seu trabalho.
Contaminação por metanol
Neste ano, a tecnologia foi adaptada pela startup Green Byte Solution , da própria Rayssa, para a detecção de metanol, devido a explosão de casos de contaminação. O Brasil registrou 73 casos de intoxicação por metanol e 22 mortes.
A ideia inicial era desenvolver um copo descartável, feito com bagaço de cana, mas o projeto foi aprimorado até chegar a um copo de plástico biodegradável que, quando descartado corretamente, se degrada em até seis meses, reduzindo o impacto ambiental
“Essa descoberta veio no intuito de oferecer soluções sustentáveis, econômicas, acessíveis, rápidas e seguras para o consumidor, uma vez que esse copo é capaz de identificar substâncias adulterantes, prevenindo esse consumo de bebidas adulteradas, que é um grande problema de saúde pública”, disse.
A estudante do Inatel Rayana Fernanda dos Santos Silva criou um copo que identifica bebida adulterada
Reprodução EPTV
Patente
O próximo passo é patentear o estudo para transformá-lo em um copo que, em um futuro próximo, esteja disponível no mercado.
"Eu entrei com a startup na incubadora do Inatel Startups há 2 anos e a gente está no caminho dessa dessa patente. Nós temos três fases, que é a a ideação, pré-incubação e a incubação. A gente já passou por toda fase da ideação e estamos na pré-incubação e buscando investimentos e e apoio para patentear o nosso produto", afirmou Rayssa.
De acordo com o professor de processos industriais do Inatel, Wanderson Eleutério Saldanha, que está ajudando a patentear o copo, ele tem potencial de grande aceitação.
“A gente tem uma possibilidade muito grande de mercado. Ele [copo] vai entrar em larga escala para grandes eventos ou então ele pode entrar na prateleira de um supermercado para que uma pessoa, uma família, pai, uma mãe, possa comprar para ter a tranquilidade de que o que ele está servindo dentro de casa está de acordo”, afirmou.
Para Rayana, a pesquisa busca dar uma contribuição à sociedade.
“A expectativa é que o nosso copo chegue em breve ao mercado. E se a gente conseguir impedir um caso de intoxicação por metanol ou que alguém caia em um golpe por conta de bebida adulterada, a gente já está cumprindo com o nosso propósito”, afirmou.
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